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sábado, 27 de dezembro de 2008


Vamos começar o ano com este poema de Miguel Torga


FELIZ ANO 2009

Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.

E os passos que deres
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.

Enquanto não alcances
Não descanses.

De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
Sempre a sonhar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.

És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde com lucidez, te reconheças.

Miguel Torga -Recomeçar

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Feliz Natal


NATAL À BEIRA-RIO

É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho!
É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Paistão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?

David Mourão-Ferreira

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Um renque de árvores lá longe...

(pintura de Gustav Klimt "Appler tree"

Um renque de árvores lá longe, lá para a encosta.
Mas o que é um renque de árvores? Há árvores apenas.
Renque e o plural árvores não são cousas, são nomes.
Tristes das almas humanas, que põem tudo em ordem,
Que traçam linhas de cousa a cousa,
Que põem letreiros com nomes nas árvores absolutamente reais,
E desenham paralelos de latitude e longitude
Sobre a própria terra inocente e mais verde e florida do que isso!

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XLV" Heterónimo de Fernando Pessoa

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008


Pois é, já são 50 anos, meio século... e que venha outros 50.... parabéns a mim !!!
Como hoje sou pequenina ...aqui vai uma flor de mim para mim



(imagem tirada da net)

sábado, 13 de dezembro de 2008

BOM FIM DE SEMANA A TODAS AS AMIGAS DO BLOG!!!


"Quando um homem quiser"
Tu que dormes a noite na calçada de relento
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão


E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
E sofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão


Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e combóios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão


E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão


Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher.


Ary dos Santos

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O Natal está tão perto...

BOA SEMANA !!!


CHOVE. É DIA DE NATAL.

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.

Fernando Pessoa

domingo, 30 de novembro de 2008

BOM FIM DE SEMANA !!!

"Cão de caça" - (desenho retirado da revista Fáça Fácil)

Ontem o meu maridito fez anos e ofereci -lhe este quadro a óleo, o tema foi a caça pois, nada melhor para um caçador.



Não é preciso ir muito longe para olhar um lindo pôr do sol... aqui da minha varanda apanhei este...

domingo, 23 de novembro de 2008

Boa semana!!!


"Não fique triste quando ninguém notar o que fez de bom. Afinal...O sol faz um enorme espectáculo ao nascer, e mesmo assim, a maioria de nós continua dormindo..."

Charles Chaplin

quinta-feira, 20 de novembro de 2008


Isto

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está de pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!


Fernando Pessoa

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

BOM FIM DE SEMANA



O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...


Alberto Caeiro

domingo, 2 de novembro de 2008














" a vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, ria e viva intensamente antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.

Charles Chaplin

BOA SEMANA !!!

segunda-feira, 27 de outubro de 2008


Flores e frutos do marmeleiro




Curiosidades:

Os marmeleiros (Cydonia vulgaris) crescem como arbusto ou árvore até quase à altura de quatro metros. Os marmelos têm sementes, que na água soltam uma substância viscosa.
No Cáucaso, Amênia, Ásia Menor e parte da Pérsia crescem marmeleiros silvestres, e na velha Grécia as «maçãs de ouro» eram consagradas à deusa do amor, Afrodite. Como muitas outras rosáceas, os marmelos chegaram até nós através da Grécia e da Itália.
Nas disposições agrárias . de Carlos Magno já aparecem citados. Bem maduros podem consumir-se crus...


retirado da net " Saúde Através da Alimentação Natural"




Depois desta breve apresentação as fotos dos docinhos que estive a fazer hoje para começar bem a semana.


UMA BOA SEMANA DOCE!!!




(marmelada, geleia de marmelo com avelãs raladas e marmelos assados )


(marmelada)


(geleia de marmelos com avelãs raladas)


(marmelos assados )

Alguns trabalhinhos em lã


Pegas feitas em lã com aplicações forma de frutos



sexta-feira, 24 de outubro de 2008

BOM FIM DE SEMANA !!!
Imagem tirada da net


Se sou alegre ou sou triste?...

Se sou alegre ou sou triste?...

Francamente, não o sei.
A tristeza em que consiste?
Da alegria o que farei?

Não sou alegre nem triste.
Verdade, não sou o que sou.
Sou qualquer alma que existe
E sente o que Deus fadou.


Afinal, alegre ou triste?
Pensar nunca tem bom fim...
Minha tristeza consiste
Em não saber bem de mim...
Mas a alegria é assim...

Fernando Pessoa

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Quando as crianças brincam...

Mais um poema lindo de Fernando Pessoa sobre as crianças ...

Quando as crianças brincam

Quando as crianças brincam

E eu as ouço brincar,

Qualquer coisa em minha alma

Começa a se alegrar


E toda aquela infância

Que não tive me vem,

Numa onda de alegria

Que não foi de ninguém.


Se quem fui é enigma,

E quem serei visão,

Quem sou ao menos sinta

Isto no meu coração.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

UMA BOA SEMANA !!!




No silêncio dos olhos


Em que língua se diz, em que nação,
Em que outra humanidade se aprendeu
A palavra que ordene a confusão
Que neste remoinho se teceu?
Que murmúrio de vento, que dourados
Cantos de ave pousada em altos ramos
Dirão, em som, as coisas que, calados,
No silêncio dos olhos confessamos?


José Saramago
Os Poemas Possíveis

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

BOM FIM DE SEMANA!!!

Fernando Pessoa
Gnomos do luar que faz selvas

Gnomos no luar que faz selvas
As florestas sossegadas,
Que sois silêncios nas relvas,
E em aléas abandonadas
Fazeis sombras enganadas,

Que sempre se a gente olha
Acabastes de passar
E só um tremor de folha
Que o vento pode explicar
Fala de vós sem falar,

Levai-me no vosso rastro,

Que em minha alma quero ser
Como vosso corpo, um astro
Que só brilha quando houver
Quem o suponha sem ver.

Assim eu que canto ou choro
Quero velar-me a partir.
Lembrando o que não memoro,
Alguns me saibam sentir,
Mas ninguém me definir.




segunda-feira, 13 de outubro de 2008


Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva

Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...

Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...

Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...



De: Fernando Pessoa
BOA SEMANA !!!!!!!!!!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Mais um poema de que gosto muito, desta vez de José Régio...

Cântico Negro


"Vem por aqui" --- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.---
Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide!
tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,---
Sei que não vou por aí.

José Régio

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

"Ternura"



Começo de semana, tela acabada!
Hoje, acabei mais um trabalhinho. Há muito que andava para pintar a obra de Gustav Klimt "Maternité" e foi desta... espero que gostem tanto quanto eu...


"Ternura"- oleo sobre tela 50x70

domingo, 28 de setembro de 2008

UMA BOA SEMANA!


Cai chuva do céu cinzento



Cai chuva do céu cinzento
Que não tem razão de ser.
Até o meu pensamento
Tem chuva nele a escorrer.


Tenho uma grande tristeza
Acrescentada à que sinto.
Quero dizer-ma mas pesa
O quanto comigo minto.


Porque verdadeiramente
Não sei se estou triste ou não.
E a chuva cai levemente
(Porque Verlaine consente)
Dentro do meu coração.


De:Fernando Pessoa

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Algumas frases de Fernando Pessoa que gosto e partilho convosco... são únicas!


"As vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.

"Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.

"Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugna-la-íamos, se a tivéssemos. O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito.

De: Fernando Pessoa

BOM FIM DE SEMANA!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Mais um Outono....

Pintura "Florest" de - Gustv Klimt



Se deste outono uma folha,

apenas uma, se desprendesse

da sua cabeleira ruiva,

sonolenta,

e sobre ela a mão

com o azul do ar escrevesse

um nome,

somente um nome,

seria o mais aéreo

de quantos tem a terra,

a terra quente

e tão avarade alegria.


De: Eugénio de Andrade



BOA SEMANA!

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Moldura com flores em massa

BOM FIM DE SEMANA!!!!!!!!!!


Aproveitei esta moldura velhota, pintei-a e colei uma flores feitas de massa, só falta a foto.



quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A minha casinha do Alentejo

Apesar de ser ribatejana, gosto muito do Alentejo... dos seus costumes, das suas gentes...
Resolvi fazer uma casinha em massa . Esta casinha, retrata a casinha que ando a reconstruir no Alentejo... vai ficar muito bonitinha :))





Casas Alentejanas e poema de Miguel Torga sobre o Alentejo



Alentejo

A luz que te ilumina,
Terra da cor dos olhos de quem olha!
A paz que se adivinha
Na tua solidão
Que nenhuma mesquinha
Condição
Pode compreender e povoar!
O mistério da tua imensidão
Onde o tempo caminha
Sem chegar!...

Miguel Torga, 1974, in
"Antologia Poética"

terça-feira, 9 de setembro de 2008


Flores de Inverno


Em um inverno solitário, porém não distante
Dentre os pequenos flocos da neve gelada,
Uma belíssima flor de luz irradiante,
Surgiu como milagre na nevoada.

Como ela era linda, toda colorida!
Pintada às tintas da cor aquarela!
Repleta de alegria, paz e de vida,
Era admirável com cores tão belas.
Seu pai o inverno, vendo a formosura,
Tomou-a na mão, chamando-a Florzinha,
E à Primavera, com muita ternura
Entregou-a, pois lá não estaria sozinha
Florzinha cresceu dentre as margaridas,
Era a preferida da Mãe Natureza.
Quanto mais suas folhas ficavam crescidas,
Mais imensurável era sua beleza.

Tinha nos olhos a cor da esperança
E em seu sorriso, brilho e magia.
Brincava de roda com a brisa criança
e quando falava, brotava poesia...

E era assim que Florzinha vivia,
Esbanjava alegria por onde passava
Amizade era ouro e ela sabia
E como tesouro, assim a guardava..

Contava seus sonhos a um beija-flor
Pensando no quanto ele espalharia
Versejando a chegada de um grande amor
Nos desejos guardados em cada poesia...

Florzinha mais bela, anjo de candura
Planta a amizade em versos de carmim
Sua beleza é tanta, assim como a ternura
Que espalha rimas doces por todo nosso jardim...
De: Murilo Saldanha e Charlyane Mirielle

segunda-feira, 8 de setembro de 2008




"Eu descobri
Que ser grande
é poder sempre fazer coisas pequenas
Que ser grande
é nao desistir quando as coisas ficam difíceis
Que ser grande
é ter humor para enfrentar os desafios...

...Ter coragem e saber que o medo não é um conselheiro...
Ser grande
é ser pequeno no tamanho
e grande na vontade
Por isso eu penso sempre...
Insista, persista e nunca desista!"

De:Denise Silvestre
BOA SEMANA !!!!!!!!!!

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Fotos das férias






























Já de regresso... e nada melhor para começar... mais um poema de Pessoa



Olhando o mar, sonho sem ter de quê


Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?


Ver claro! Quantos, que fatais erramos,
Em ruas ou em estradas ou sob ramos,
Temos esta certeza e sempre e em tudo
Sonhamos e sonhamos e sonhamos.


As árvores longínquas da floresta
Parecem, por longínquas, 'star em festa.
Quanto acontece porque se não vê!
Mas do que há pouco ou não há o mesmo resta.


Se tive amores? Já não sei se os tive.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
E a vida morre enquanto o ser revive.


Colhes rosas?Que colhes, se hão-de ser
Motivos coloridos de morrer?
Mas colhe rosas. Porque não colhê-las
Se te agrada e tudo é deixar de o haver?


Fernando Pessoa