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quarta-feira, 6 de maio de 2009

HÁ CIRCO NA CIDADE...

Hoje, montaram a tenda do Circo, aqui no Montijo. Lembrei-me deste poema de José Régio que dedico a todos os que gostam e trabalham no circo.

CIRCO
No circo cheio de luz

há tanto que ver!...

Senhores!
- grita o palhaço da entrada
todo listado de cores
- Entrai, que não custa nada!
À saída é que se paga.

Ri, palhaço!

O palhaço entrou em cena,
ri, cabriola,
rebola,pega fogo à multidão.

Ri, palhaço!

Corpo de borracha e aço
rebola como uma bola,
tem dentro não sei que mola
que pincha, emperra, uiva, guincha, zune, faz rir!

Ri, palhaço!


José Régio

terça-feira, 5 de maio de 2009

















Relembrar um quadro que pintei... baseado numa obra de Gustav Klimt.
Este quadro mora na casa de
http://hortensiarosa.blogspot.com/

Pintura
Onde se diz espiga
leia-se narciso.
Ou leia-se jacinto.
Ou leia-se outra flor.
Que pode ser a mesma.

As flores
são formas de que a pintura
se serve para disfarçar
a natureza.
Por isso é
que no perfil
duma flor
está também pintado
o seu perfume.

Albano Martins, in "Castália e Outros Poemas"

sexta-feira, 1 de maio de 2009


FELIZ DIA DA MÃE !!!!





Para todas as mães do mundo...














(Quadro pintado por mim, baseado numa obra de Gustav Klimt)


Poema à mãe


No mais fundo de ti
Eu sei que te traí, mãe.

Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.


Tudo porque ignoras

Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, mãe,
E o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
E até o meu coração
Ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -
Às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;

Ainda aperto contra o coração
Rosas tão brancas
Como as que tens na moldura;

Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal...

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas.

Boa noite.Eu vou com as aves.

Eugénio de Andrade

quarta-feira, 22 de abril de 2009

(imagem tirada da net)

A Manhã Raia
A manhã raia. Não: a manhã não raia.

A manhã é uma coisa abstracta, está, não é uma coisa.
Começamos a ver o sol, a esta hora, aqui.
Se o sol matutino dando nas árvores é belo,
É tão belo se chamarmos à manhã «Começarmos a ver o sol»
Como o é se lhe chamarmos a manhã,
Por isso se não há vantagem em por nomes errados às coisas,
Devemos nunca lhes por nomes alguns.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" Heterónimo de Fernando Pessoa

sexta-feira, 17 de abril de 2009

BOM FIM DE SEMANA


Homem que vens de humanas desventuras,
que te prendes à vida e te enamoras,
que tudo sabes e que tudo ignoras,
vencido herói de todas as loucuras;

que te debruças, pálido, nas horas
das tuas infinitas amarguras
e na ambição das coisas mais impuras,
e és grande simplesmente quando choras;

que prometes cumprir e que te esqueces,
que te dás às virtudes e ao pecado,
que te exaltas e cantas e aborreces.

arquiteto do sonho e da ilusão,
ridículo fantoche articulado,
- eu sou teu camarada e teu irmão!


António Thomaz Botto

quarta-feira, 15 de abril de 2009


(Pintura de Gustav Klimt)
Rivais

Ó como a primavera madrugou!
Olha esses campos: como vem garrida!
- Maria, vê! Não sejas distraída...
Que belo sol e que feliz eu sou!

Tudo desperta em derredor: a vida
acorda, e traz um ar de quem sonhou...
- Mas tu não vês! Que pena, Amor! passou
uma andorinha, e lá se vai, perdida...

Sorris. E cismas... Que desdém o teu!
E eu fui chamar-te: - Vem! Que lindo céu!
É tudo vôo, e canto, e beijo, e graças... -

Que louco eu sou! Perdoa, Amor, não era
que tu viesses ver a primavera.
Ela é que fica a ver-te, quando passas!


António Correia de Oliveira

quarta-feira, 8 de abril de 2009